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Cinema | [Especial!] Conversamos com o diretor de "The Flash", Andy Muschietti


 

Andy Muschietti esteve no Brasil e conversou com jornalistas sobre a produção, curiosidades dos bastidores, multiverso cultural e o futuro do DCEU

Por Paulo Costa


"The Flash", o mais novo filme do Universo Cinematográfico da DC chegou aos cinemas de todo o país. Na trama Flash viaja no tempo para mudar os eventos de seu passado. No entanto, quando sua tentativa de salvar sua família altera o futuro, ele fica preso em uma realidade na qual o General Zod ameaça a aniquilação.

O longa, o primeiro com James Gunn a frente dos projetos como co-presidente da DC Studios, se despede do trabalho criado por Zack Snyder que exerceu por muitos anos sua função não apenas como co-presidente, mas também como produtor, diretor e roteirista de vários destes projetos, e já aponta o que podemos esperar do futuro deste DCEU repaginado comandado por Gunn.

A aventura solo de Barry Allen conta com Ezra Miller no papel protagonista, além de grandes nomes como Sasha CalleMichael Shannon, Ron Livingston, Maribel Verdú, Kiersey Clemons e Antje Traue. Complementam o elenco os astros Michael Keaton e Ben Affleck que reprisam seus papeis como Batman/Bruce Wayne.

A produção tem direção de Andy Muschietti, que esteve no Brasil para divulgação de "The Flash", e em sua rápida passagem por aqui, o CINEeCIA. foi convidado à compor uma mesa redonda e, ao lado mais sete jornalistas selecionados, tivemos a honra de bater um papo com o cineasta que trouxe algumas curiosidades dos bastidores, as dificuldades com o projeto, a presença de artistas latinos no elenco, o lado filosófico presente na trama, e o futuro da DC nos cinemas sob comando de James Gunn.

Diretor de "The Flash" passou pelo país participou de evento com os fãs e conversou com a imprensa | Divulgação, Warner Bros. Pictures


A conversa teve como ponta pé inicial a pergunta de Fabio Hurtado do Nerd Break que questionou o diretor sobre como foi dirigir e pensar as cenas de corrida do Flash, um dos momentos mais impressionantes do filme. "Estamos falando do poder do homem mais rápido do mundo. Existem coisas que eu gosto e coisas que não gosto nas reproduções de corredores e de tudo o que se move rápido. Uma coisa que eu queria evitar era o efeito beija-flor, que eu acho engraçado de uma maneira ruim, e que é utilizado excessivamente." contou Andy Muschietti se referindo às asas do beija-flor que batem em alta velocidade sem parar, e complementou "Então, eu escolhi utilizar a perspectiva do Barry para a maior parte das cenas. Nas cenas em que vemos ele de fora, ele é apenas um borrão, e mesmo na cena no começo do filme, nota-se que ele está percorrendo uma longa distância, mas sem esse efeito que me causa constrangimento. Então, parece que ele está correndo como uma pessoa normal, mas tendo essa longa distância."

O diretor ainda explicou sobre as cenas de hiper-velocidade "nós estamos na sua perspectiva. Ele se move um pouco mais devagar, mas as outras pessoas parecem congeladas." e também explicou o motivo dos raios amarelos nesta cenas "há raios amarelos, algo que eu quis trazer e que não estava nas suas versões anteriores, onde ele sempre é azul. Agora ele é amarelo por conta do novo uniforme que consome a energia acumulada." e sempre muito simpático Andy Muschietti ainda brinca sobre este novo traje  do personagem "O uniforme é feito pelas tecnologias Wayne, porque não existe nenhuma possibilidade dele ter feito aquele uniforme, certo?"

Quando chega a vez do representante do CINEeCIA., Paulo Costa, perguntamos sobre os elementos do terror, marca registrada deste diretor que se tornou mundialmente famoso ao dirigir filmes do gênero como "It - A Coisa", e como ele agregou sua assinatura em seu primeiro filme de super-heróis. "O horror nesta história não é gráfico. É uma história de terror sobre um assassinato, sobre perder sua mãe, dos traumas de infância, o que está presente nos novos filmes de terror. Se você quiser horror gráfico, tem o Dark Flash correndo em nossa direção, e é um pesadelo. Sempre existe a chance de criar o terror quando alguém está sonhando." explica o cineasta.

"Estamos falando do poder do homem mais rápido do mundo", diz Andy Muschietti sobre as cenas de corrida | Divulgação, Warner Bros. Pictures


Paulo Costa
brinca, dizendo que seu momento de terror favorito no filme é logo no início, na cena em que alguns bebês caem de um prédio, de prontidão Andy entra na brincadeira "Sim, é aterrorizante e ao mesmo tempo divertido. A gente sabe que ele [Flash] vai salvá-los, porque você não pode começar um filme matando bebês.", todos riem e o diretor completa "Mas foi a minha intenção de tornar a situação tensa, testando Barry com algo muito difícil até mesmo para ele."

A rodada de perguntas segue e Carol Ballan, A Odisseia, questiona as dificuldades de realizar um filme sobre o Flash, por se tratar de um projeto antigo e almejado pelos fãs. "Tem um momento na vida de todo cineasta em que ele precisa estar confiante de si mesmo e não sentir ou silenciar esta pressão,  senão fica difícil ouvir seus próprios instintos criativos. É algo que vai acontecendo no caminho, e realizando alguns filmes eu cheguei a esse ponto no qual eu não sinto essa pressão, eu posso até ser irresponsável. Mas eu sei que há uma responsabilidade, mas tento não me estresso com isso." contou o diretor.

Já o Arroba Nerd, representado por Miguel Morales, pediu ao direto que falasse um pouco sobre a atriz Maribel Verdú, que interpreta a personagem Nora, mãe de Barry, é uma parte tão essencial da história do protagonista. "A primeira coisa que eu falei ao estúdio quando busquei um tom para o filme, foi sobre o centro emocional da história, e torná-la forte o suficiente para que as pessoas se conectem e criem uma reação emocional genuína. Já vimos muitos filmes vazios por dentro, que tem arcos emocionais lá, mas não realmente lá, entende?", e explica seu intuito em explorar essa relação maternal "Eu queria criar algo que a plateia pudesse se relacionar, e eu tinha o material: a história de uma criança e sua mãe, uma criança querendo reencontrar a sua mãe. E é difícil ter uma execução que transmita isso." e conclui sobre a importância da escalação da atriz "Para mim, Maribel é uma atriz espanhola que eu admiro muito. Vindo da Argentina, existe algo sobre a nossa cultura na América do Sul que valoriza a família e a amizade, o que é muito especial."

Ainda sobre a atriz, Andy Muschietti nos conta "Eu sabia que queria uma atriz como ela, que consegue criar conexão emocional mesmo com pouco tempo de tela, e plantar a semente antes da aventura toda. Foi um ato de fé, porque eu nem sabia se ela falava inglês, ela nunca fez um filme ou série americana antes, então foi um daqueles desafios que podiam dar errado, e isso é bastante irresponsável. Mas ao mesmo tempo há algo em seu sorriso e seu olhar que transmite o calor humano." e finaliza "Nós merecemos essa representação latina em Hollywood. Nós vivemos em um mundo multicultural, então a representatividade deve vir naturalmente, sem forçar. Esse é o mundo que vivemos, e precisamos resgatar os valores das culturas para permitir que essas histórias funcionem."

"Eu sabia que queria uma atriz como ela", Andy Muschietti sobre a atriz espanhola Maribel Verdu | Divulgação, Warner Bros. Pictures


Ainda se tratando de elenco, o longa possui outro nome de etnia latina: Sasha Calle, uma artista em ascensão e um dos pontos altos do filme. Kainan Medeiros, do Team Comics, aproveita e pede a Andy que comente sobre a quebra de estereótipos de atuação em questão de diversidade, e o diretor conta "Para mim, a Sasha atuando nesse filme é um reflexo deste mundo multicultural no qual vivemos, e também quebra a expectativa de quem leu Flashpoint, pois a Supergirl nem está no material original. E eu acho que é bom manter essa mitologia com mudanças, porque a vida consiste em mudanças." e agrega "Mudar as coisas respeitando a essência da mitologia dos personagens é algo permitido no multiverso. E é quase inerente que no multiverso as coisas serão diferentes, ele é uma metáfora para o nosso universo. A Terra é um multiverso. Podemos especular sobre realidades paralelas, Terra 94 ou Terra 4, mas a verdade é que a Terra que conhecemos é um multiverso. O multiverso é feito de diferentes versões de uma mesma coisa, e quem sabe o que acontecerá com a Supergirl da Sasha. É isso que empolga as pessoas."

Por falar em "Flashpoint" o Fabrizio Ferro, do Estação Nerd, perguntou sobre as referências deste e de outros quadrinhos que influenciaram e foram utilizados em "The Flash", até mesmo se teve alguma obra argentina. O diretor conta "Existe uma solidão profunda, principalmente no fim do filme, que me lembra 'O Eternauta', um quadrinho clássico da América Latina na Argentina. É uma obra-prima da ficção científica, que tem fortes fundamentos." e explica um pouco sobre a sua influencia no longa "É o apocalipse alienígena e tem que lidar com a perda da sua família. E ele lida com o luto, e tem uma jornada pelo tempo e espaço." e Andy Muschietti ainda se surpreende com a similaridade entre as obras "Agora que você mencionou, eu vejo muitas similaridades. Os aliens. Tem umas espaçonaves gigantes. Meu deus, é a mesma coisa."

Se tratando sobre HQs do personagem tîtulo, ele se manifesta "'The Flash' não é o 'Flashpoint', mas há pontos que lembram o universo do personagem. Temos Jay Garrick no centro, e vemos Barry Allen o conhecendo, sendo que ele é um ídolo. Jay Garrick está no mesmo universo cinemático de George Reeves como Superman, mesmo que nunca tenhamos visto Jay enquanto George Reeves era o Superman." e traz ainda mais algumas referências que surgem no decorrer do filme "Então, essas coisas estão lá para mostrar que sempre existe um Flash, até no universo em que Helen Slater é a Supergirl.", [ALERTA DE SPOILER!] e ainda menciona a participação de Nicolas Cage como Superman "Tem até o Nicolas Cage em um mundo que existe, mesmo que ninguém tenha visto esse filme, porque não importa. Certo? Então é a minha maneira de dizer que no Multiverso tudo existe ao mesmo tempo junto e separado, mesmo com filmes feitos há 20, 30 anos, esses personagens continuam vivos. É uma maneira de combinar e conciliar todos os mundos que existem cinematograficamente."

"Também tem uma coisa que o jovem Barry fala, que é 'Ninguém morre'. Isso foi tirado de um quadrinho do Wally West, em uma história que ele tem que salvar pessoas de um avião com terroristas. A aeromoça abre a porta de compressão e cai, e o Flash está tão decidido a salvá-la que ele pula sem nem saber o que vai fazer." explica o diretor se referindo ao capítulo "Ninguém Morre" presente no quadrinho "Flash #54 Free Fall in Scarlet!", e finaliza "Ele pensa rápido e decide correr para criar um travesseiro de ar, que suaviza a aterrissagem. O quadrinho é antigo, mas fala muito sobre um personagem [...] porque o Barry jovem representa um lado inocente, no qual ele acha que ninguém pode morrer. Ele crê que pode fazer isso.

Diretor comentou as referências e inspirações para o filme, como a HQ "Flash #54 Free Fall in Scarlet!" | Divulgação


A conversa segue, e Suzana Uchôa, do OQVer, traz um papo mais filosófico pra mesa ao dizer que o que mais lhe encantou em "The Flash" foi quem, além de toda a ação, ainda há espaço para que se explore o destino e o existencialismo na trama, e solicita ao diretor que comente esse lado tocante da trama, como foi inserir em seu roteiro elementos. Andy Muschietti pensa um pouco e começa a responder "Eu queria criar aquela dinâmica estranha da dupla, como uma parábola para aquilo que todos vivemos, que é o adulto lidando com a sua criança interior. E como essa criança é algo que te ajudará a lidar com a vida adulta." conta o diretor que explica um pouco mais as escolhas no roteiro, "Também é uma espécie de carta de amor à infância, que tem tantos tesouros que se perdem quando você se torna adulto. A inocência e a capacidade de imaginar coisas que não existem e imaginar soluções. É uma boa maneira de trazer o equilíbrio, ouvir a criança que não vê as coisas com descontentamento e maldade."

O cineastas ainda debate mais um pouco sobre a indagação de Suzana sobre o personagem não conseguir lidar com suas versões felizes, "A filosofia atravessa o filme de forma não linear do tempo, assimilando que existem coisas que não podemos mudar, algo que a nossa mente faz. A nossa mente nos leva para o passado recriando a situação repetidamente e sempre com um final feliz, para evitar que fiquemos loucos. Isso porque nós não podemos viajar no tempo.", explica Andy que elabora um pouco mais seu raciocínio "O problema é que a gente fica viajando para um tempo no qual as coisas eram boas, e esse tempo existe no presente, nós só não as percebemos. Por isso há um confronto de filosofias quando o Barry original fala que sempre estamos vivos em algum lugar do tempo."

Para não se estender muito no assunto, o diretor conclui "Quando falamos de destino, falamos sobre ações inevitáveis. Mas parece que no final, ninguém realmente ganha. Não sabemos se o jovem Barry teria sido bem sucedido se o original deixasse ele continuar fazendo isso  [voltando no tempo] mais vezes." e finaliza revelando seu momento favorito no filme "O único modo de fazer isso seria matar o Barry original porque ele é essa intervenção inevitável. Eu gosto do terceiro ato por conta de todas essas reviravoltas."


"A nossa mente nos leva para o passado recriando a situação repetidamente", explicou o diretor sobre o lado filosofico na trama que inclui um trauma familiar | Divulgação, Warner Bros. Pictures


Com nossa conversa se aproximando do fim o Chippu, representando por Bruna Nobrega, faz uma pergunta bastante pertinente e de curiosidade geral envolta ao Universo Cinematográfico da DC, agora sob o comando de James Gunn e questiona o diretor se existe algum futuro para "The Flash", se ele acredita em uma possível sequência. Andy Muschietti sem meias palavras revela "Eu acredito que ele é um cara que respeita os instintos dos cineastas, e eu espero que esse filme seja absorvido." e finaliza a conversa dizendo "Sobre o futuro da DC, eu não sei dizer, eu acho que vai ser ótimo, e mal posso esperar pelo próximo filme."

E nós também já estamos empolgados, afinal "The Flash" é um filme nostálgico que abraça o passado de forma respeitosa e, de certa forma, mira em um futuro promissor tanto para o personagem como para o Universo Cinematográfico da DC.

"The Flash" segue em cartaz nos cinemas de todo o país.