Quando temos algo a perder, ir para a guerra é muito mais difícil
Por Victor Martins
No primeiro filme da série "Avatar", cujo "O caminho da água" é a primeira continuação de cinco, encontramos o mesmo planeta Pandora, mas com pessoas completamente diferentes daquelas do primeiro filme.
Jake Sully (Sam Worthington) vive com Neytiri (Zoe Saldana) e seus quatro filhos, três do próprio casal, uma que eles adotaram, a filha de Grace, Kiri, que, como o próprio filme disse, a concepção é um mistério. Após um ataque de Quaritch (ele mesmo, renascido em um avatar) nas montanhas onde vivem, Jake e sua família buscam asilo nas distantes aldeias marítimas de Pandora, pois além de querer proteger seu povo, o protagonista quer fugir da guerra.
James Cameron em "O Caminho da água" ao invés de construir a ambientação para guerra iminente, monta uma história onde todas aquelas pessoas, principalmente Jake, querem fugir da guerra, não porque tem medo de batalhar, mas sim porque eles têm algo a perder, seus filhos e sua boa vida no planeta.
Isso é feito, em parte, através do visual do filme. Suntuoso assim como o primeiro, "O Caminho da água" mantém o nível de imagem, mas vemos uma outra Pandora, onde o mar também é um dos protagonistas, já que boas partes das cenas são no fundo do oceano, um ambiente completamente diferente do primeiro filme.
Se a floresta toda é interligada, o oceano também é, se o povo da floresta usa os ikrans (os pássaros do primeiro filme), aqui, o povo marítimo tem essa mesma ligação dos peixes, isso faz com que além de um ambiente completamente diferente seja criado (muita gente iria querer passar férias ali), a metáfora da preservação da natureza seja mantida.
Mais do que visual, uma obra sobre o amor | Divulgação, 20th Century Fox
Pois Jake é um homem que aprendeu a importância da natureza e Quaritch é uma ferramenta perfeita do capitalismo, um militar capacitado e obediente com ódio por tudo. O que muda em "O Caminho da água" é que essa natureza já está em Jake, assim como o amor que sente por sua família.
Isso é, talvez, o ponto principal no novo filme. Jake tem sérias dificuldades em ser um bom pai, principalmente para o filho mais novo e essa dificuldade é o motor do filme, pois Cameron é hábil em fazer com que o espectador sinta não apenas essa tribulação, mas também o medo tanto de Jake, quanto dos filhos e assim é possível entender porque a decisão de pedir asilo ao invés de partir para a guerra.
O medo de perder algo que conquistamos é uma das piores coisas que podemos sentir. É muito difícil e muito punitivo lutar para manter o que já temos, é muito mais fácil lutar para conseguirmos aquilo que queremos e por mais que as batalhas físicas aqui sejam belíssimas, as mentais são o foco do filme, porque se no primeiro "Avatar" vemos Jake lutando para conseguir algo que quer (uma família, um lugar onde se sente parte do ambiente e sua liberdade física), aqui, vemos ele lutando para manter o que conseguiu.
Essa luta é comum a todos nós e dá muito trabalho. Com certeza é fácil sentir tensão durante as 3h10 de projeção, justamente pela facilidade de identificação com o que está sendo visto. A luta é inevitável e cansa, muitas vezes, ficamos pensando se as pessoas ao nosso lado nesse caminho não cansam da gente, se Neytiri não cansa de Jake, mas um dia perguntei a minha mãe se cansava amar o tanto que ela me ama e ama meu pai e a resposta foi “não, claro que não” e vendo esse filme eu finalmente entendi o que ela quis dizer, é mais fácil ter alguém ao seu lado do que percorrer o caminho sozinho e apenas um grande filme pode passar essa mensagem.
Vejam na maior tela possível.