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Cinema | "Pânico", por Paulo Costa (Sem spoilers)



Mais do mesmo, "Pânico" se consagra como uma ótima revisitação à franquia com muita nostalgia e respeitosas homenagens

Por Paulo Costa


Independente de qual seja a sua geração, é inegável o quanto o cineasta Wes Craven e o roteirista Kevin Williamson foram revolucionários ao dar início a uma das mais rentáveis e elogiadas franquias do terror. Em "Pânico", de 1996, éramos submetidos a um enredo em que ao mesmo tempo fazia uma análise caprichada sobre a estrutura de uma obra slasher, enquanto se apropriava dos maiores clichês para depois justificar sua importância em tela. Com personagens caricatos e também carismáticos, o longa abordava muito bem a juventude noventista na pequena cidade fictícia de Woodsboro, na Califórnia. Mesclando com maestria cenas de muito suspense, cheias de sustos e sangue, mas também com um humor escrachado, resultou em algo onde Craven e Williansom riam de si mesmos enquanto revolucionavam todo um gênero que, posteriormente, daria sequência a uma saga e também a uma enxurrada de filmes que marcaria para sempre toda uma década e ficaria conhecida como "Terror Anos 1990", culminando em relevantes produções como "Jovens Bruxas" (1996), "Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado" (1997), "Lenda Urbana" (1998), "Prova Final" (1998), entre outros.

25 anos depois retornamos a Woodsboro no novo "Pânico", quinto filme que não se utiliza do numeral por questões a serem exploradas, explicadas e satirizadas no roteiro. Assinado desta vez pela dupla James Vanderbilt e Guy Busick (Willianson retorna apenas como produtor), onde a trama traz mais uma vez uma série de assassinatos brutais chocando a pacata cidade. Agora um novo assassino se apoderou da máscara do Ghostface e começou a mirar em um grupo de adolescentes, fazendo com que segredos do passado desta cidade mortal venham à tona, além de reacender traumas nos sobreviventes, que, novamente, precisarão enfrentar essa ameaça obscura e violenta.

Em cartaz exclusivamente nos cinemas desde quinta-feira, 13/01, o script passa longe de ser um reboot, segue carregado de referências aos longas anteriores e mesmo não apresentando nada de tão inovador, se faz capaz de apresentar aos mais novos o legado que esta franquia carrega ao ponto de despertar tamanha curiosidade que os façam descobrir esse patrimônio do terror slasher. Contudo, presta uma bela homenagem aos seus criadores, motivo ao qual agradará uma boa parcela dos mais exigentes fãs, ou não. Afinal, este enredo não poupa ninguém e a fan-base entra na onda dos deboches e temos retratado com muita precisão aqueles mais xiitas no pior estilo "estragaram a minha infância" ou "quem lacra não lucra", assim como usa e abusa, mas sempre com muito respeito, de piadas a cultuadas obras do "pós horror" como "A Bruxa", "Hereditário" e "Babadook", como também enaltece seus antecessores como "Halloween", "Sexta-Feira 13" e "A Hora do Pesadelo", enquanto seus roteiristas ainda brincam com os manjados clichês agora elevados a outro patamar, o que torna tudo muito hilário.

Filme enaltece o protagonismo feminino existente na franquia desde 1996 | Divulgação


Um ponto muito importante a se observar está concentrado nos novos personagens, em particular aos personagens femininos, afinal, pouco se fala sobre a grande representativa feminina que "Pânico" trouxe no decorrer de mais de duas décadas de existência. Com as lendárias Neve Campbell e Courtney Cox, que respectivamente voltam como as icônicas Sidney Prescott e Gale Wethers, sempre tivemos em cena mulheres que fogem completamente do estereotipo das garotas indefesas lutando por suas vidas e da sexualização que recai sobre estas protagonistas quase que em diversos gêneros do cinema (e isso vale para todas as outras personagens e em todos os filmes da franquia). Enquanto Sidney é durona e luta pela sua sobrevivência encarando os ataques sem fugir de uma boa briga, ela também jamais se coloca no papel de vítima e muito menos se vitimiza para ganhar os holofotes. Seu contraponto aparece em Gale, uma jornalista de tabloides avida por furos jornalísticos em especial ao mais sensacionalistas, ela é o exímio exemplo da mulher que se coloca a frente do perigo para conseguir o que almeja, e isso passa longe de ser ruim, pelo contrário, Gale é valente, destemida e, mesmo que um tanto quanto curiosa, também não foge da luta.

Muito destas personagens temos refletido em Sam, interpretada por Melissa Barrera, que assim como Sidney, carrega carisma e muita astucia, sempre batendo de frente com o perigo e colocando a própria vida em risco para se desvencilhar de um segredo de seu passado e desvendar quem está por trás da máscara. O mesmo podemos dizer de Mindy, personagem de Jasmin Savoy Brown, que emana de seus poros uma releitura complexa e atualizada do eterno Randy (Jamie Kennedy), ela analisa e cria de forma muito cautelosa o esqueleto de um filme de horror trazendo-as para uma contemporaneidade paralelo a realidade vivida por ela e seus amigos buscando entender as novas regras de sobrevivência, nesta personagem o protagonismo atinge o nível máximo ao retratar uma mulher negra e LGBT, que com muita ironia poderia seguir a carreira jornalista e se tornar parceira de Gale.

Enquanto a saga sempre trabalhou com exímio estas personagens, houve também uma desconstrução do masculino. David Arquette, que também retorna como o Dewey Riley, sempre concentrou o papel da "donzela indefesa" trazendo em seu estereotipado xerife, nada além de um homem com alma de garoto, atrapalhado e despreparado para lutar por sua vida, sendo o tempo todo salvo por Gale ou Sidney. Nisso o roteiro também soube aproveitar as características de Dewey e distribuir entre os novos "mocinhos" da trama que vem com nomes conhecidos do público jovem como Mason Gooding, Jack Quaid e Dylan Minnette, este, sendo a maior decepção do longa. Ele interpreta Wes, e merecia maior destaque, ainda mais se for uma alusão ao cineasta Wes Craven, já que aqui ele é apenas o adolescente certinho demais e totalmente inexpressivo, que nada reflete ao criador revolucionário desta narrativa.

Mais do mesmo, ainda é satisfatório retornar a Woodsboro | Divulgação


Mesmo com assassinatos ainda mais brutais e viscerais que edificam a violência visual contida neste novo longa, o clímax deixa a desejar com a revelação de quem está por trás destes crimes. Sentimos muito a falta daquela cena clássica cercada de mistérios onde o assassino tira a máscara e deixa a pateia de boca aberta. Entretanto, é inquestionável a construção da cena que precede a revelação e como tais justificativas são cabíveis ao desenvolvimento e conclusão da obra. Os diretores Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillet, responsáveis por assumir as rédeas deste retorno de "Pânico" as telonas, prestam não apenas suas homenagens, mas com muito amor e inteligência transmitem em cada frame suas considerações e afetividades não apenas a Craven, que faleceu em 2015 deixando uma grande herança a todos que idolatram este gênero cinematográfico, mas também a todos os responsáveis por fazer com que o filme original existisse.

Todavia, o medo em tentar inovar demais e serem criticados ou acusados de "estragar a infância de alguém" propaga-se a cada instante, no decorrer de quase 120 minutos de projeção, é perceptível que diretores e roteiristas tentaram ultrapassar a tênue linha que separa o saudosismos do ineditismo e entregam na verdade uma grande e respeitosa homenagem e nada além disso. Mas está tudo bem, pois é sempre muito prazeroso revisitar personagens antigos, o frio na espinha ao ouvir a famosa frase "Hello Sidney", apreciar uma boa interação do passado com o presente, revivendo toda uma nostalgia e se divertindo em um banho de sangue que somente Ghostface é capaz de nos proporcionar. Não é o melhor da série, mas entrega um resultado satisfatório provando que as vezes um entretenimento requentado desce melhor que algo extremamente elaborado.