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Cinema | "Cry Macho: O Caminho para Redenção", resenha por Paulo Costa

 


Um retorno ao adormecido cinema clássico, que encanta e emociona pela sua simplicidade

Por Paulo Costa


Chegar aos 90 anos não é pra qualquer um, muito menos completar 9 décadas de vida na ativa, seja em cima de um palco ou então nas telonas do mundo todo, com certeza é para pouco, a não ser que você seja uma saudosa dama da dramaturgia nacional como Fernanda Montenegro, ou uma lenda do cinema americano como Clint Eastwood, este por sua vez, com 91 anos atuando, dirigindo e produzindo filmes. Seu mais novo trabalho "Cry Macho: O Caminho para Redenção", que acaba de chegar aos cinemas, traz um Clint um pouco mais contido, mas ainda assim encantador.

Na trama, Eastwood interpreta Mike Milo, um ex-astro de rodeio e criador de cavalos fracassado, que aceita uma proposta de trabalho de um ex-chefe para trazer o jovem filho desse homem de volta do México para casa. Forçado a tomar o caminho de volta para o Texas, Mike e Rafo, a dupla improvável enfrenta uma jornada inesperadamente desafiadora, durante a qual o cavaleiro cansado do mundo encontra conexões inesperadas e seu próprio senso de redenção.

O roteiro baseado na obra literária de N. Richard Nash, que assina o roteiro ao lado de Nick Schenk, apresenta algumas mudanças em sua transposição para as telas, mas nada comprometedor, afinal toda a sua essência continua presente. A trama trabalha com muita sutileza temas relevantes, como conflitos de gerações, dramas familiares, a aceitação da velhice, assim como a descoberta do novo para alguém que já viveu toda uma vida e acredita já ter presenciado de tudo. Temos em cena personagens que encantam e cativam em uma jornada de redenção que emociona não pelos clichês dramalhões que Hollywood costuma entregar, mas sim, por toda sua simplicidade, que coloca o espectador em situações reflexivas, onde mesmo a trama se passando no final dos anos 1970 - começo dos anos 1980, são situações rotineiras vivida por muitos até hoje. Em especial temos uma cena em que a personagem Marta revela seu passado a Mike, que, por ser algo tão atual a muitas famílias ao redor do globo, me deixou comovido.

Eduardo Minett e Natalia Traven sob direção de Clint Eastwood | Divulgação


Clint Eastwood dispensa apresentações, e mesmo Mike Milo sendo aquele personagem que já estamos mais do que acostumados a vê-lo interpretar, e é sempre um charme vê-lo de cowboy em estonteantes cenas de montaria, em "Cry Macho" vemos Clint em uma desconstrução de tudo o que já viveu nos cinemas e, basicamente, aposentando este tipo personagem, com muita naturalidade e de forma despretensiosa o astro monta em alguns cavalos, mas é na sua atuação mais contida e, de certa forma, carregada por um olhar cansado e abatido pela idade, com sua fala mansa e serena, até mesmo em cenas que o personagem precisa entregar algo mais potente, somos pegos por esta atuação comedida mas muito emotiva. Sinto que este filme funciona quase que como uma despedida do astro por traz de personagens inesquecíveis se despedindo do grande público, das mais diversas gerações, e isso por si só já carrega um grande e positivo impacto não só para sua carreira, mas também para esta obra

Eastwood que assina também a direção, apresenta um exímio cuidado com seus atores, seja com o estreante Eduardo Minett, que vive o jovem Rafo, entregando uma atuação acima da média para quem está começando, ou então com uma atriz mais veterana como Natalia Traven, onde a mexicana de 52 anos vive a personagem Marta. Somos arremessados a um equilibrado misto de tristeza e felicidade, trazidos por personagens de diferentes idades, mas sempre dispostos a ensinar e também a aprender uns com os outros. O elenco ainda traz nomes como Dwight Yoakam como o ex-empregador de Mike, Howard Polk, Fernanda Urrejola como Leta, mãe do garoto Rafo, e Horacio Garcia-Rojas como o capanga de Leta,  Aurelio. Contudo, quem rouba a cena é Macho, o galo de briga de Rafo, que além de uma conexão com personagem de Minett, faz com que ele e Mike também criem laços fraternais.

Tecnicamente o longa possui belíssimas cenas em grandiosos planos e paisagens abertas, com uma fotografia que cresce aos olhos, mas ao mesmo tempo sempre muito singela em locações mais rurais, pode de imediato não parecer aquelas super produções que estamos acostumados nos dias de hoje, mas entrega uma volta ao cinema clássico com toques de faroeste estampado em cenários, como a Cantina de Marta, nas vestimentas e adereços dos personagens - com Eastwood usando o simbólico chapéu de cowboy, no vilarejo que se torna uma das importantes paradas dos personagens durante a jornada, onde os pequenos detalhes que engradecem a obra. A trilha sonora assinada Mark Mancina, ganhador do Oscar por "Dia de Treinamento", consegue trafegar com maestria entre o delicado e o bruto, proporcionando uma agradável experiência auditiva, e que enobrece ainda mais o filme.

No geral, "Cry Macho: O Caminho para Redenção" proporciona, em toda sua simplicidade, uma volta ao velho e encantador cinema que estava adormecido por películas exacerbadas de cenas megalomaníacas e efeitos especiais. E é exatamente de filmes assim que estávamos precisando, afinal, termos a oportunidade de prestigiar artistas que se recusam a se "aposentar", como Clint Eastwood ou Fernanda Montenegro, é sempre um deslumbre para nós vê-los em cena.