Por Paulo Costa
Confesso que ao ver o trailer de "Quem Vai Ficar Com Mário?", fiquei com os dois pês atrás. Primeiro por ser uma adaptação de um longa italiano que gosto muito "O Primeiro Que Disse", comédia dramática de Ferzan Özpetek, lançada em 2010. Segundo, o histórico de produções nacionais seja no cinema ou na TV, quase sempre possuem uma abordagem em relação a homossexualidade que ou é extremamente contida e violenta, ou escrachadamente caricata e ofensiva. Salve algumas exceções.
Contudo, para minha grande surpresa, tanto a direção de Hsu Chien como o roteiro assinado por Stella Miranda, Luis Salém e Rafael Campos Rocha, tratam com muita leveza e sutilidade temas recorrentes do cotidiano, como a homofobia, o machismo e outros preconceitos, com a proeza de misturar elementos da comédia sem ser histérico ou caricato, do romance sem ser clichê, e do drama sem ser exacerbadamente trágico ou então um grande novelão mexicano.
A trama gira em torno de Mário Brüderlich, um rapaz de 30 anos que resolve finalmente visitar sua família e contar para seu pai, um gaúcho de família tradicional, que é escritor de teatro e que mora junto com seu namorado, Fernando, no Rio de Janeiro. Mas, uma surpresa adia os planos de Mário, que se envolve com Ana, a coach que seu irmão Vicente contratou para ajudar a modernizar a cervejaria da família.
Aqui, sexualidade é explorada e construída de forma fluída e sem ser tão didática, mas ainda assim de fácil compreensão, quesito que deixa a obra ainda mais acessível, principalmente ao grande público, deixando de ser um filme especificamente de nicho, ele fura a bolha, e leva uma mensagem de respeito com as diferenças, sem imposições ou agressividade, a todos os públicos.
Outro ponto que vale analisar é que todos os personagens gays, de certa forma, tentam englobar os mais diferentes estereótipos existentes dentro a própria comunidade, seja o mais sério, o afeminado, o enrustido, a drag, e até mesmo aquele que ainda não se assumiu e de alguma forma busca sua coragem para ser feliz.
Mesmo com parte do elenco ser de atores héteros, como Daniel Rocha, Felipe Abib e Rômulo Arantes Neto, dando vida a personagens gays como Mário, Fernando e Vicente, a comunidade LGBTQIA+ tem forte presença nas cenas ou até mesmo nos bastidores ao trazer nomes importantes como Nany People, Leticia Lima, Nando Brandão e Victor Maia, assim como o próprio diretor, além da atual estrela da música pop nacional Pabllo Vittar, que gravou uma canção inédita especialmente para o filme.
Claro que comparações ao original serão inevitáveis, como por exemplo alterações e cortes de personagens, carga dramática menor, além de que tais mudanças existam para adaptar a obra ao nosso cotidiano, e vale refletir que em mais de uma década muita coisa mudou, inclusive a própria sigla LGBT se encontra em constante mudança, abrangendo cada vez mais a diversidade e toda forma de amar, infelizmente a única coisa que não mudou neste anos todos foram o preconceito e o pensamento arcaico que nos torna o pais que mais mata Gays, Travestis, Transexuais... no mundo.