Longa surpreende ao transformar os cartunescos pokémon em seres vivos que caminham ao lado de humanos
Por Pedro Soler
Hoje não existe quem não conheça Pokémon. Se antes a franquia estava limitada a um público específico com seus jogos, animes e mangás, hoje todos conhecem pelo menos o mínimo sobre ela. Através do sucesso de Pokémon Go, que ainda conta com fiéis jogadores ao redor do mundo apesar da febre ter passado, até mesmo aqueles que não se interessavam nos bichinhos fofos e estranhos, ou tentaram a sorte os capturando, ou assistiram alguém fazê-lo pelo menos uma vez. Era natural que o próximo passo da franquia fosse um live-action seguindo a onda da Disney, por isso "Pokémon: Detetive Pikachu" foi recebido com entusiasmo por todos.
No filme, acompanhamos Tim Goodman (Justice Smith, "Jurassic World: Reino Ameaçado") e um Pikachu falante (Ryan Reynolds, "Deadpool 2") buscando desvendar o mistério por trás da morte do pai de Tim. Temos também no elenco Kathryn Newton ("Big Little Lies"), Bill Nighy ("A Livraria") e Ken Watanabe ("Bel Canto").
Apesar de não haverem grandes performances, há uma atuação sólida do elenco. Parte do diálogo pode gerar desconforto por causa de algumas piadas de duplo sentido, que fazem alusão à drogas ou com alguma conotação sexual, e frases soltas e desnecessárias. Mas se isso se deve ao roteiro ou à dublagem, descobrirei no futuro ao assistir o filme legendado.
Com uma trama simples e explicações repetidas, "Pokémon: Detetive Pikachu" tem chances de funcionar para o público mais jovem, fãs de Pokémon Go e as encarnações mais recentes do anime. Já para aqueles que jogaram um dos clássicos Pokémon Red/Blue/Green no final da década de 90 ou começo dos anos 2000, o roteiro fraco se tornará um problema. Afinal, a grande reviravolta na história está óbvia e evidente já nos dois primeiros minutos do filme.
Minha maior expectativa frustrada foi o "detetive" ter se limitado ao título do filme. Não havia informações para se juntar e sequer qualquer trabalho investigativo foi feito. O máximo foi um apunhado de papéis que foi esquecido e colocado de lado sem a menor cerimônia. Temos, porém, espaço mais do que suficiente para uma continuação onde poderemos acompanhar investigações reais sendo feitas.
Foto dos bastidores do filme
Já o grande ponto forte no filme agradará a todos: o universo criado. O grande desafio em mãos, o de transformar criaturas cartunescas em seres vivos que caminham pelo mundo real, foi superado com louvor. Todo e cada Pokémon criado, desde os famosos Pikachu e Charizard, até o Snubbull, ganham vida na tela e não nos faz questionar em momento algum sua existência. Já a Cidade Ryme é um espetáculo visual por si só com seus grandes letreiros em neon.
Portanto, temos o início de uma possível grande franquia com o pé direito nos cinemas ao considerarmos "Pokémon: Detetive Pikachu" como o teste que ele é. O mais difícil foi feito, que era o de colocar pokémon e humanos lado a lado, trabalhando, batalhando e bebendo cafés. Resta agora um amadurecimento no roteiro que tenho certeza que acontecerá no futuro. Não reclamaria de ver uma série de filmes sobre o rumo de Red até vencer a Liga, mas porque não explorar os tempos de treinador do professor Carvalho? Material bom é o que não falta nessa franquia e, agora, sabemos que técnica também não.