JK Rowling está jogando com a gente. Será que dará certo?
Por Fabrícia Toledo
Após 2 anos a continuação de "Animais Fantásticos" chegou. Alvo Dumbledore, interpretado por Jude Law, se junta, agora visualmente, a Newt Scamander
(Eddie Redmayne) para combater Gellert
Grindelwald (Johnny Deep). “Os Crimes de Grindelwald” começa exatamente resolvendo
o cliffhanger do seu antecessor, com Grindelwald preso pelo MACUSA e em processo de transferência para Europa. E logo de inicio
a ação do filme já te impulsiona para o que esperar do vilão populista interpretado
por Deep (cuja escalação possui muitas críticas e ressalvas) que até entrega um bom antagonista (apesar de por muitas vezes durante o longa ser mais do mesmo ator, o roteiro do personagem ajuda!). Gellert é um vilão que já vimos na vida muitas
vezes, seja nas artes, seja na vida real. Cheio de carisma, ele vende sua causa
como salvação e, muitos inocentes, iludidos com um futuro melhor, cegamente a
compram, pois quem batalha contra a causa dele não sabe seduzir o público tão
bem quanto, além de estar dividido e sem lideranças. Tenho certeza
que qualquer semelhança com nossa atual realidade não é mera coincidência, pois
estamos falando de JK Rowling, que sempre busca inspiração na nossa sociedade para
escrever suas tramas.
O segundo filme da franquia consolida a expansão do universo bruxo da premiada autora, mas
tem seus problemas. Problemas estes que podem ser corrigidos no decorrer dos
novos filmes, sendo pra mim o principal destes a falta de definição de um protagonista.
Todos são protagonistas ao mesmo tempo que não são e com isso alguns pontos acabam sendo que resolvidos de maneiras simplórias ou insatisfatórias,
como por exemplo a relação Teseu (Callum Turner), Newt e Leta (Zöe Kravitz) que
fica subentendida durante toda a trama e com uma resolução bem fraca, apesar de Leta ter um papel de certa importância no longa. Outro grande
exemplo deste problema é o relacionamento Dumbledore e Grindelwald. A
homossexualidade do Alvo não é levantado na trama e a insinuação de que houve
algo mais entre o vilão e ele é tão sutil que se torna imperceptível a olhares
menos atenciosos. Outro ponto que me incomodou um pouco é a Paris um pouco britânica
apresentada na trama. Poderiam ter filmado em mais locais conhecidos da cidade-luz.
Os novos animais e o grau de conhecimento
de Newt em relação a eles satisfazem. Nosso querido magizoologista continua incrível
e sabe resolver problemas usando os animais para obter o que precisa da melhor
maneira possível, sempre protegendo-os de qualquer perigo e se relacionando,
também como sempre, melhor com eles que com os humanos. Sua relação com seu
irmão é problemática, com Leta incômoda e com Tina (Katherine Watherston) passa
por um grande mal-entendido. Com isso o humano mais próximo dele volta a ser o nosso
trouxa favorito, Jacob (Dan Fogler), que passa por problemas em seu
relacionamento com Queenie (Alisson Sudol), devido a proibição de casamentos entre
bruxos e não-mágicos. Queenie, alias outra ótima personagem do filme que nos mostra como a influência do que está ocorrendo ao longo do filme pode
alterar a percepção das coisas. Diferente do primeiro filme onde Jacob é o nosso introdutor ao universo, desta
vez Queenie acaba que tendo este papel para entendermos como o momento do mundo
mágico, e do mundo de forma geral é delicado e podem nos levar a escolhas questionáveis.
A relação de Dumbledore com Newt é
semelhante a de Harry com o professor, pois novamente Alvo, impedido de agir, precisa de alguém para a ação. Os motivos de seu impedimento são mostrados ao longo do
filme, e Newt sabendo disso precisa começa a tomar decisões que estava adiando
tomar. A de escolher lados. A de se posicionar. Ele é introduzido a algo que
não combina com ele e ao longo do filme ele por si mesmo começa a entender que
precisará ser mais do que é. Pois o momento exigirá isso dele. E essa bagunça de sentimentos torna o personagem em alguns pontos do filme bem chatinho.
Com dicas no decorrer do longa,
JK Rowling nos confunde sobre a direção que quer tomar com a história de
Creedence (Ezra Miller), que tem como sua parceira de cena a versão ainda humana
de Nagini (Claudia Kim). O rapaz busca a verdade sobre suas origens e é ele quem acaba por levar a ação a Paris. Mas a verdade nem sempre é aquela que pensamos.
E os personagens mais perspicazes da trama vão nos mostrando bem isso. Mais um
ponto positivo do filme, de não nos entregar o caminho total do que está sendo
traçado pelo antagonista até o 3º ato. Mas ao mesmo tempo mostrar o quanto
Dumbledore conhece o inimigo com quem sabemos que no futuro travará o maior
duelo que o mundo bruxo já conheceu.
O fã de Harry Potter (digo por mim)
deve ter ficado extremamente feliz com os services que o filme traz, as cenas
em Hogwarts de forma geral servem somente para isso mesmo. Não trazem muita novidade
além do que já foi mostrado nos trailers, talvez apenas consolidar que havia uma
amizade bem forte entre 2 excluídos, Leta e Newt.
O visual do filme novamente encanta.
Figurinos, locais de gravações, o retorno a Hogwarts já citado, os ministérios
americanos, francês e britânico, retratados de maneira linda e com muitos detalhes.
De forma geral, apesar dos
problemas citados, o longa tem boas reviravoltas, novos animais tendo sua importância,
mesmo que pequena, ao roteiro, personagens que nos importamos e termina em mais
um excelente cliffhanger, o qual acredito que ninguém esperava. JK Rowling mantem
nossa atenção para a 3ª parte desta saga que inclusive poderá ter
cenas no Rio de Janeiro, mas precisa prestar atenção a sua própria obra e aos
seus mestres inspiradores para resolver melhor tramas paralelas pois servem
para definir a personalidade de seus personagens e com isso não podem ser desperdiçadas
como foram neste segundo episódio.
PS: Como os bebês pelúcios são
fofinhooooooos !!!
PS2: 3D desnecessário para variar. Em IMAX vale a
pena ver !