Por Paulo Costa
Anavitória explodiu em meados de 2015/2016 com seu Pop Folk e, não demorou muito para que esta dupla, formada por Ana Clara Caetano Costa e Vitória Fernandes Falcão, conquistasse uma porção de fãs por todo o país, em sua maioria jovens.
Vindas de Araguaína, Tocantins, onde as duas já haviam estudado juntas mas nem
sonhavam em lançar uma dupla musical ou, nem se quer existia um laço de
amizade, é no Rio de Janeiro que, de fato, esses laços começam a se estreitar e,
durante uma festa, Ana que já cantava e tocava, fica impressionada com o vocal
de Vitória, cantando despretensiosamente em uma rodinha de violão. Este é o
ponto de partida do longa musical “Ana e Vitória” que chega aos cinemas nesta
semana.
Com música, humor, dramas e muito amor, o filme conta com roteiro e direção de
Matheus Souza, conhecido por trabalhos como “Apenas o Fim” (2008) e “Tamo Junto”
(2014), além de ser o roteirista da adaptação “Confissões de Adolescente” (2013), o que
mostra que ele realmente sabe como criar uma história que orbita entre o
universo da adolescência e a passagem para a vida adulta, explorando todos os
sentimentos e pensamentos que só quem já viveu intensamente este momento sabe do que estou falando.
Sua direção é muito peculiar e meticulosa, o que incluiu um número musical de abertura, todo em plano sequencia (aquelas cenas gravadas inteiramente sem nenhum corte), que além de apresentar as personagens centrais, faz uma bela crítica ao mundo contemporâneo que vivemos, onde não importa onde estamos ou com quem estamos, sempre estaremos o tempo todo com um celular na mão, seja postando uma selfie no Instagram, seja fazendo um check-in no Facebook, ou apenas aguardando ansiosamente uma mensagem no WhatsApp daquele crush que parece que vai te dar um bolo, tudo está muito bem representado em cada detalhe que a cena traz em toda sua magnitude..
Após essa primeira experiência confesso que fiquei meio intrigado, com o que estaria
por vir, mas também com medo, já que esta possuí claramente suas referencias ao
consagrado musical “La La Land - Cantando Estações” (2017) e, tenta-lo imitar,
seria um completo desastre, pois a pessoa que vos escreve viu o filme inúmeras
vezes no cinema. Ainda bem que isso não acontece e o filme flui muito bem ao
longo de quase 120 minutos de projeção.
Sem muito prolongar, o primeiro ato do filme, o que mais gosto, se constrói
inteiro durante uma única noite, o que poderia ficar cansativo, já que tudo se
passa em um único ambiente, nesta tal festa, na verdade se torna interessante com momentos ainda mais interessantes que vão desencadear o que está por acontecer no desenrolar de toda a
trama.
Que as duas não são atrizes, isso é nítido mas, diferentemente do trailer, ao
qual juguei como um completo desastre, Vitória Falcão foi uma grata surpresa e
a forma como ela conduz o seu humor me fez rir por diversos momentos, é algo
natural e espontâneo, o mesmo posso dizer de Ana Clara, porém o inverso de sua
companheira, ela tem a sutiliza no humor, mas também entrega um personagem
dramático, sonhando com o amor eterno e, acrescentando tons de melancolia.
E, por falar em amor, esta aqui outras surpresas que me agradou por completo, a
forma como o amor é retratado, um amor livre, sem rótulos, o que transforma o
filme em algo totalmente descontruído, já que as duas sentem atração tanto por
meninos assim como por meninas e não estão nem aí pro que vão dizer, tanto que recentemente em uma entrevista que aborda este assunto, elas
declararam que:
“A gente acredita no amor desta forma”
Porém nem tudo são flores e sim, o longa possuí seus defeitos, um deles, e o que mais me constrangeu é um
personagem chato e nada convincente, pois é, estou falando do "fã número 1", um
personagem que, ao menos para mim, não acrescentou nada à trama e não conseguiu
me fazer rir com o seu humor forçado e caricato, um personagem que tanto faz como fez e poderia nem existir na história.
Outro momento a me incomodar um pouco é a cena de uma DR entre Ana e sua
namorada Clarice em um restaurante, onde ao fundo os clientes se levantam e
fazem uma dança bem brega. Ao meu ver, se todos ficassem sentadinhos apenas como bons
figurantes e deixasse as duas conduzir a canção e a dramaticidade da cena, com certeza
teria sido algo muito mais bonito, talvez nos mesmos tons da cena em que este mesmo casal acaba amarrado pelo fio de um microfone dentro de um quarto,
trazendo uma bela reflexão sobre a maneira como muitos enxergam o amor, um amor
controlador, cheio de amarras, aquele amor que não te faz bem, mas que você
precisa se libertar dele.
No geral “Ana e Vitória” é um filme que com certeza vai agradar aos fãs da
dupla, é um filme jovem que dialoga diretamente com os jovens, mas que pode também surpreender a quem nunca ouvi falar delas, a final,
a pessoa sisuda aqui saiu da sessão com um belo sorriso estampado no rosto.