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Dona Ivone Lara: Além da Sambista.



Compositora deixa legado maior que suas belas canções: Uma lição de vida.

Por Fabrícia Toledo.

"...Sonho meu, sonho meu, vá buscar quem mora longe..."  Versos eternizados nas vozes de Gal e Bethânia foram escritos por uma mulher, negra, criada no morro e sambista: Dona Ivone Lara, falecida aos 96 anos em 17 de abril de 2018, após um quadro de insuficiência cardiorrespiratória, no RJ.

Nascida Yvonne Lara da Costa, vem de uma família que sempre flertou com música, pai violonista de sete cordas, mãe ótima cantora, com voz de soprano. Aprendeu com tio, por que foi criada após a morte dos pais, a tocar cavaquinho. Sua primeira composição foi aos 12 anos, sobre um passarinho de que gostava muito e um dos seus grandes sucessos, "Tiê". Mais tarde, seu primo Mestre Fuleiro, ajudou a compositora ver suas músicas serem cantadas. Ele assumia autoria das composições da prima para que fossem aceitas por outros sambistas.

Dona Ivone tocando cavaquinho, uma de suas paixões.

Em 1947, tornou-se integrante da ala das baianas no nascimento da escola Império Serrano, onde mais tarde, vencendo preconceitos se tornou a primeira mulher a ter um samba-enredo oficial cantado na avenida, "Os Cinco Bailes da Historia do Rio", escrito em parceira com Silas de Oliveira e Bacalhau, em 1965.

Dona Ivone Lara em desfile da Império Serrano. Foto acervo O Globo.

E passou a integrar definitivamente a ala de compositores da escola. Fato que também foi pioneira, visto que nunca antes uma mulher havia ocupado este posto em nenhuma escola de samba. Seu primeiro disco, foi lançado em 1970, "Sambão 70", onde dividia canções com Clementina de Jesus e Roberto Ribeiro. Mas foi após a sua aposentadoria em 1977 que seu talento passou a ser amplamente reconhecido e alcançar voos mais altos.

Lançou discos de sucesso entre 1979 e 1985. Cedeu composições a diversos cantores tais como Clara Nunes, Roberto Ribeiro, Maria Bethânia, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Paulinho da Viola, Beth Carvalho, entre outros.
Ivone e Clementina de Jesus. Foto acervo O Globo

Também se aventurou como atriz e interpretou a "Tia Nastácia" em um especial do "Sitio do Pica-Pau Amarelo".

Recebeu diversas homenagens em vida em respeito a todo seu lastro musical: 2010, homenageada na 21ª edição do "Prêmio de Música Brasileira"; 2012, tema do samba enredo de sua escola, "Império Serrano"; 2014, homenageada na 19ª edição do "Trem do Samba"; 2015, incluída na lista de "10 grandes mulheres que marcaram história no RJ". 2016, homenagem de "Ordem de Mérito Cultural" em Brasília.

Formada como enfermeira e terapeuta ocupacional, função que exerceu até 1977, nunca deixou de se dedicar a suas composições, até em seus últimos anos dia de vida. Familiares revelaram que a Grande Dama do Samba deixou em torno de 40 composições inéditas!

Um sorriso negro se vai, mais deixou legado e lições de vida gigantescas. Descanse em Paz, Matriarca do Samba!